quinta-feira, 14 de maio de 2009

A poetisa da Embriaguês Severina Branca num mote que a imortalizou disse:


Severina Branca:

O silêncio da noite é quem tem sido
Testemunha das minhas amarguras.

Inda sinto o tremor das mãos sujas
Afagando o meu corpo pecador
Ao invés do prazer sentia dor
E no meu peito a voz dizendo fujas.
Entre as brechas das telhas as corujas
Agouravam as minhas desventuras
Eu gritava pra Deus lá nas alturas
Leve logo este ser que é tão sofrido
O silêncio da noite é quem tem sido
Testemunha das minhas amarguras.

Quantos homens chegavam embriagados
Dando chutes na porta como loucos
Os gentis para mim foram tão poucos
Eram seres tristonhos, reservados.
Eu perdi a noção dos meus pecados
Pela fome com facas de perjuras
Que cortava minha alma com agruras
E sangrava o meu peito já ferido
O silêncio da noite é quem tem sido
Testemunha das minhas amarguras.

O poeta Manoel filó falando de mocidade e saudade disse:



Manoel Filó:

O homem quando envelhece
Fica todo diferente
Embora ele tenha sito
Um rapaz inteligente
Começa aparecer falhas
Nas engrenagens da mente

Quem numa separação
Sofrer contrariedade
Reconquiste o que perdeu
Pra viver mais à vontade
Porque não é de espingarda
Que a gente mata a saudade

O poeta Zé Adalberto disse:



Zé Adalberto:

Pra que casa cercada por muralha
Se a cova é cercada pelo pranto
Se pra Deus todos têm do mesmo tanto
Tanto faz a fortuna ou a migalha
Pra que roupa de marca se mortalha
Não requer estilista na costura
E o cadáver que a veste não procura
Nem saber se a costura ficou boa
Pra que tanta riqueza se a pessoa
Nada leva daqui pra sepultura.

terça-feira, 12 de maio de 2009

O poeta Jessier Quirino na Poesia Paisagem do Interior disse:


Jessier Quirino:

Matuto no mêi da pista
menino chorando nu
rolo de fumo e beiju
colchão de palha listrado
um par de bêbo agarrado
preto véio rezador
jumento jipe e trator
lençol voando estendido
isso é cagado e cuspido
paisagem de interior.


Três moleque fedorento
morcegando um caminhão
chapéu de couro e gibão
bodega com surtimento
poeira no pé de vento
tabulêro de cocada
banguela dando risada
das prosa do cantador
buchuda sentindo dor
com o filho quase parido
isso é cagado e cuspido
paisagem de interior.

O poeta João Paraibano retratanto mais uma vez a velhice:


João Paraibano:

Estou ficando cansado
O corpo sem energia
Jesus pintou meus cabelos
No final da boemia
Mas na hora de pintar
Esqueceu de perguntar
Qual era a cor que eu queria.

Toda a noite quando deito
Um pesadelo me abraça
Meu cabelo que era preto
Está da cor de fumaça
Ficou branco após os trinta
Eu não quis gastar com tinta
O tempo pintou de graça.

O poeta Braulio Tavares numa poesia bem escrota:



Braulio Tavares:

A buceta da minha amada
tem pêlos barrocos,
lúdicos, profanos.
É faminta
como o polígono-das-secas
e cheia de ritmos
como o recôncavo-baiano.

A buceta da minha amada
me aperta dentro, de um tal jeito
que quase me morde;
e só não é mais cabeluda
do que as coisas que ela geme
quando a gente fode.

O poeta Zé Marcolino numa critica a um companheio escritor disse:


Zé Marcolino:

Você matou minha fé
Não quis matar minha sede
O santo que não me ajuda
Pode cair da parede

Pensei que a nossa amizade
Durasse pra toda vida
Não foi correspondida
A minha boa vontade
Você com sua maldade
Um futuro destruiu
Feriu quem não te feriu
Sem razão, não sei porquê
Tudo que eu fiz por você
Você não retribuiu

Esta frase muito rica
Usava um meu parente
Quem não olha para a frente
Tropeça e atrás se fica
Se você me critica
E me procura, mas não vá
Que eu também não vou lá
Devido ao que aconteceu
Pegue o seu, dê cá o meu
Fique lá que eu fico cá.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

O poeta Diomedes Mariano numa poesia em referência ao rio Pajeú disse:



Diomedes Mariano

Nosso Pajeú querido
Rio dos mais respeitados
Que quando cheio espelhava
O rosto de Afogados,
Quem foste tu, quem tu és?
Foste um dos fortes pajés,
Impondo enorme respeito,
És hoje um índio cansado,
Tendo um sentimento ilhado,
Na solidão do teu leito.

Não conto as vezes que ouvi,
Tua garganta bradando,
E a tua água barrenta,
Descer nos desafiando,
Espumas amareladas,
Brutalmente carregadas,
Pela braveza da enchente,
E os remansos como poltros,
Dando empurrões uns nos outros,
Querendo chegar na frente.

Já é hora de fazermos,
Uma limpeza em geral,
Prá devolvermos ao rio,
A beleza natural,
Conservá-lo por inteiro,
Torná-lo o velho guerreiro,
Que atualmente não é,
Cartão postal de Afogados,
E nós, orgulhosos curvados,
Aos pés do nosso pajé.

O poeta Ivanildo Vila-Nova disse:



Ivanildo Vila-nova ( Nordeste Independente)

Já que existe no sul esse conceito
Que o nordeste é ruim, seco e ingrato
Já que existe a separação de fato
É preciso torná-la de direito
Quando um dia qualquer isso for feito
Todos dois vão lucrar imensamente
Começando uma vida diferente
De que a gente até hoje tem vivido
Imagine o Brasil ser dividido
E o nordeste ficar independente

Dividido a partir de Salvador
O nordeste seria outro país
Vigoroso, leal, rico e feliz
Sem dever a ninguém no exterior
Jangadeiro seria senador
O cassado de roça era suplente
Cantador de viola o presidente
E o vaqueiro era o líder do partido
Imagine o Brasil ser dividido
E o nordeste ficar independente

Em Recife o distrito industrial
O idioma ia ser nordestinense
A bandeira de renda cearense
"Asa Branca" era o hino nacional
O folheto era o símbolo oficial
A moeda, o tostão de antigamente
Conselheiro seria o inconfidente
Lampião, o herói inesquecido
Imagine o Brasil ser dividido
E o nordeste ficar independente

O Brasil ia te de importar
Do nordeste algodão, cana, caju
Carnaúba, laranja, babaçu
Abacaxi e o sal de cozinhar
O arroz, o agave do luar
A cebola, o petróleo, o aguardente
O nordeste é auto-suficiente
O seu lucro seria garantido
Imagine o Brasil ser dividido
E o nordeste ficar independente

O poeta João Batista Siqueira (Cancão) disse:




Cancão

O sol, em nesgas vermelhas
Vai atravessando o mangue
Aquelas rubras centelhas
Parecem feitas de sangue
E o celeste vulcão
Numa santa erupção
Na montanha ainda arde
Seus derradeiros lampejos
São eles restos dos beijos
Enfraquecidos da tarde

O poeta Zé Catota disse:



Zé catota

Eu admiro demais
o trabalho duma aranha,
no seu tear invisível,
tanta beleza acompanha,
faz lençol da cor de neve
no coração da montanha.

O poeta Louro do pajeú disse:



Louro do pajeú

Não posso suportar mais
na vida tantas revoltas...
Prazer, por que não me buscas ?
Mágoas, por que não me soltas ?
Presente, por que não foges ?
Passado, por que não voltas ?

O poeta Job Patriota disse:



Job Patriota

Na madrugada esquisita
O pescador se aproveita
Vendo a praia como se enfeita
Vendo o mar como se agita
Hora calmo hora se irrita
Como panteras ou pumas
Depois se desfaz em brumas
Por sobre as duras quebranças
Frágeis, fragílimas danças
De leves flocos de espumas.

O poeta Rogaciano Leite numa crítica disse:



Rogaciano Leite

Senhores críticos basta
Deixai-me passar sem pejo
Que um trovador sertanejo
Vem seu pinho dedilhar
Eu sou da terra onde as almas
São todas de cantadores
Sou do Pajeú das Flores
Tenho razão pra cantar

Não sou um Manuel Bandeira
Drummond ou Jorge de Lima
Não espereis obra-prima
Desse matuto plebeu
Eles cantam suas praias
Palácios de porcelana
Eu canto a roça, a choupana
Eu canto o sertão que é meu.

O poeta Pinto do Monteiro, o maior repentista de todos os tempos disse:




Pinto do Monteiro

Essa palavra saudade
conheco desde criança
Saudade de amor ausente
Não é saudade é lembrança
Saudade só é saudade
Quando se perde a esperança

O poeta Otacilio Batista disse:




Otacílio Batista

Admiro o vagalume
Voando ao morrer do dia
Desafiando a ciência
Que o homem na Terra cria
Com um pisca-pisca na bunda
Sem precisar bateria.

O poeta Junior do Bode num mote do poeta Antonio de Catarina disse:




Até o mar tem vontade
De ser filho do sertão


Talvez alguém me conteste
Pois vendo isso me encanto
Ver o mar se jogar tanto
Tentando ir pro oeste
Não consegue e faz um teste
O teste evaporação
Voa pelo o seco chão
Depois cai por caridade
Até o mar tem vontade
De ser filho do sertão.

Antônio da Catarina
Viu o mar entristecido
Rasgado e muito ferido
Pela distância ferina
Tapou rasgo com resina
Fazendo adivinhação
Pois deseja o grandão
Antes da eternidade
Falecer sem ter vontade
De ser filho do Sertão.

O poeta Daudeth Bandeira na Poesia Plantador de Milho disse:



O Plantador de Milho

Sou eu caboclo da roça
Criado dentro da mata
Nunca calcei um sapato
Nunca usei uma gravata
Moro perto da cidade
Mas pra falar a verdade
Só vou lá de feira em feira
Ou quando há precisão
De batizar um pagão
Ou buscar uma parteira

No dia que registrei
O meu filhinho mais novo
O juiz estava nervoso
Brigando no meio do povo
Me chamou de maltrapilho
Sujo, plantador de milho
E disse mais uma piada
Dessas que a boca não cabe:
Matuto pobre só sabe
Fazer menino e mais nada.

O juiz não tinha filhos
Que enfeitassem sua vida
Eu conhecia a história
E fui direto na "ferida":
O senhor está zangado,
Tem dez anos de casado
E a mulher não tem um filho;
A sua comida fina
Não contém a vitamina
Que há na massa do milho.

A minha família é grande
Dez filhos e a mulher.
Sua família é pequena
Mas é porque você quer.
A sua mulher lhe embroma
Quase todo dia toma
Anticoncepcional
Lhe vicia em novela
Dorme tarde e faz tabela
E esquece do "principal".

Ouvi o senhor dizer
Que está gastando por mês
Mas de dez salários mínimos
Só com perfume francês
Diz que a vida é uma bomba
Que foi não foi leva tromba
Com mercadoria falsa
Comprar perfume estrangeiro
É pra quem possui dinheiro
Nos quatro bolsos da calça

Caro doutor, lá em casa
Ninguém nem conversa em luxo
A fora uma simples roupa,
O resto é encher o bucho
Não acostumei meu povo
Exigir sapato novo
Para as festas de São João
Ao invés de um colar de ouro
Compro a rabada de um touro
Pra se comer um pirão.

Lá ninguém fala em perfume,
O que há na minha casa
É cheiro de carne assada
Pingando em cima da brasa
Minha cabocla Maria,
Gorda, disposta e sadia,
Pra toda vez que eu quiser
Botar fogo na geléia
Para isso a minha "véia"
É mulher, sendo mulher.

Como, é galinha caipira
E não galeto de granja
Ao invés de coca-cola
Tomo suco de laranja
Com rapadura de mel.
E escute aqui, bacharel,
Conversa longa me atrasa.
Quer ver a mulher Ter filho?
Bote um plantador de milho
Pra dormir na sua casa.

O poeta Vinicius Gregório no soneto disse:




Eu e o galo de campina

Triste sina a de um galo de campina
Que era alegre bem antes da prisão
Mas foi pego nas grades de um alçapão
E hoje chora num canto a triste sina

Eu também tive a sina repentina
É que um dia fui livre e hoje não
Na tristesa esse galo é meu irmão
Minha sina é da dele cópia fina

Hoje a casa do galo é a gaiola
Notas tristes no canto é que ele sola
A saudade do galo a vastidão

O meu canto é um canto de lamento
A gaiola é o meu apartamento
E a saudade que sinto é do sertão.

O poeta Chico Pedroza na poesia Sertão Caboclo declamou:




Sertão Caboclo congrega
Em sua universalidade
O que de mais puro existe
Na sua rusticidade
Seu povo e sua cultura
São a riqueza mais pura
Deste chão verde e amarelo
Duvida? Vá la pra ver
E depois venha me dizer
O quanto o Sertão é belo!

O poeta Sebastião Dias numa canção disse:



Eu sou filho daquela lavadeira
Que a tardinha do rio regressava
E com om ganho da roupa que lavava
Sustentou meu estudo a vida inteira
Quantas vezes faltava em sua feira
O biscoito do filho merendar
Era a forma de economizar
A despesa da minha educação
Minha mãe me criou queimando a mão
Na quentura do ferro de engomar.

O poeta Dedé Monteiro na Poesia Fim de Feira disse:



o lixo atapeta o chão
um caminhão se balança
quem vem de fora se lança
em cima do caminhão
um ébrio esmurra o balcão
no botequim da esquina
o gari faz a faxina
um cego ensaca a sanfona
e um vendedor dobra a lona
depois que a feira termina.

um jumento estropiado,
magro que só a desgraça,
quando vê que a feira passa
vai pra frente do mercado
o endereço ao danado
eu não sei quem diabo ensina
eu só sei que baixa a crina
entre as cinco e as cinco e meia
lancha, almoço, janta e ceia
depois que a feira termina.

O poeta Dimas Batista improvisando num galope disse:



Eu muito admiro o poeta da praça,
que passa dois anos fazendo um soneto,
depois de três meses acaba um quarteto,
com todo esse tempo inda fica sem graça.
Com tinta e papel o esboço ele traça,
contando nos dedos pra metrificar,
que noites de sono ele perde a estudar,
pra no fim mostrar tão minguado produto,
pois desses eu faço dois, três, num minuto,
cantando galope na beira do mar.

O poeta Delmiro Barros com o mote: Na sombra da Poesia-



Nasci na terra das flores
Nela vivo satisfeito
Canto saudades do eito
No berço dos cantadores
São José dos meus amores
Meu céu, minha estrela guia
No quintal da Cantoria
Vôo e de emoção transbordo
Me deito, durmo e acordo
Na sombra da poesia.

Num mote de Val patriota o poeta disse:

Era doce demais e se acabou
A moagem dos sonhos vi parar
Quando o tempo deixou açucarar
A moenda que o tempo enferrujou
Sua prensa meu peito magoou
Foi garapa azedando a ilusão
Hoje resta o engenho da solidão
Do fantasma da junta que dizia:
Os garranchos da tua covardia
Arranharam demais meu coração


Primeiro encontro foi miragem
Arquivei na cabeça o teu sorriso
Vi teus olhos de lago e eu Narciso
Mergulhei e me afoguei na tua imagem
Fui em cantos que o amor não fez viagem
Onde pulsa mais forte a emoção
Mais depois magoou foi ilusão
Foi facada por trás eu não sabia
Os garranchos da tua covardia
Arranharam demais meu coração

O poeta Didi Patriota desvendando os mistérios da morte:

Didi Patriota:

Não precisa sequer um pedreiro
Arquiteto nenhum sabe fazer
Não conheço ninguém pra me dizer
O tamanho que tem o seu terreiro
Do alpendre se vê, o dia inteiro
Tal paisagem, pintor inveja a tela
Para quem debruçar-se na janela
Dá pra ver um cenário deslumbrante
A morada de Deus é tão distante
Que precisa morrer pra chegar nela.

O poeta Didi Patriota em seu livro Na Sombra da Poesia disse:

Didi Patriota

Viajando um certo dia
Fiz amizade com um cego
Ele me disse: eu não nego
Pois tenho um divino dia
Disse que cobra desvia
Desmancha o bote na hora
Desenrosca vai pra fora
Sai dali ligeiramente
Cobra volta do batente
Da casa que cego mora.

Esse é mais um mito que só existe num lugar chamado sertão.

terça-feira, 5 de maio de 2009

O poeta Alberto da Cunha Melo, junto com Ésio Rafael disseram:

A lua quenga safada(ER)
Que no cabaré do céu
Se cobre toda de véu (ACM)
Pra dar o cu intocada.